História do Carnaval


Muitas são as teorias e opiniões sobre a origem do Carnaval. Mas numa ideia todas elas convergem: a transgressão, o corpo, o prazer, a carne, a festa, a dança, a música, a arte, a celebração, a inversão de papéis, as cores e a “alegria”.

Egipto
Provavelmente, a comemoração do Carnaval tem as suas raízes nalguma festa primitiva, realizada em honra do ressurgimento da primavera.
A folia ter-se-á iniciado como uma espécie de culto feito para louvar uma boa colheita agrária, onde as pessoas, mascaradas, dançavam e bebiam. As pessoas, no momento da festa, afastavam as suas preocupações, e saudavam o que lhes parecia um bem com danças e cânticos para espantar as forças negativas que prejudicavam a fertilidade. Este é o modelo mais simples de Carnaval e consta de danças e cânticos em torno de fogueiras, incorporando-se aos festejos, máscaras e adereços.
Nesta perspectiva, alguns autores acreditam que o Carnaval tenha-se iniciado nas alegres festas do antigo Egipto, nomeadamente nos festejos associados ao culto da Deusa Ísis desde o ano 2000 A.C. A festa era nada mais que dança e cantoria em volta de fogueiras. Os foliões usavam máscaras e disfarces simbolizando a inexistência de classes sociais.

Grécia
Para outros autores o Carnaval originário tem início nos cultos agrários da Grécia, de 605 a 527 a.C. Com o surgimento da agricultura, as pessoas passaram a comemorar a fertilidade e produtividade do solo.
O Carnaval na Antiga Grécia estava associado a cultos ao Deus Dionísio. Conforme as plantações de parreiras se espalhavam pelas ilhas da Grécia e pela região da Arcádia, mais gente o celebrava. Por essa altura, já entronado como deus das vindimas, representavam-no como uma figura humana, só que de chifres, barbas e pés de bode, com um olhar invariavelmente embriagado.
Consta que as primeiras seguidoras do deus Dionísio, há uns 3 ou 3,5 mil anos atrás, foram mulheres que viram nos dias que lhe eram dedicados um momento para escaparem da vigilância dos maridos, dos pais e dos irmãos, para poderem cair na folia “em meio a danças furiosas e gritos de júbilo”. Nos dias permitidos, elas, chamadas de coribantes, saíam aos bandos, com o rosto coberto de pó e com vestes transformadas ou rasgadas, cantando e gritando pelas montanhas gregas. Os homens, transfigurados em silenos e sátiros, não demoraram em aderir às procissões de mulheres e ao “frenesi dionisíaco”. A festança que se estendia por três dias, encerrava-se com uma bebedeira colectiva no meio de um «vale-tudo» pan-sexualista.
Nos primórdios do culto a Dionísio, as autoridades (as cortes, os sacerdotes e os ricos) não gostaram nada daqueles festejos malucos. Entre outras razões porque eram as vítimas favoritas das sátiras. Os festejos bacantes, como é sabido, além de serem uma teatralização colectiva da inversão de tudo, serviam como um acerto de contas do povo com os seus governantes. Neles, o miserável vestia-se de rei, o ricaço de pobretão, o libertino aparece como guia religioso, e a rameira local posava como a mais pura donzela, machos reconhecidos vestem se como fêmeas, e assim por diante. Dionísio brincalhão, irreverente e debochado, estimulava que virassem o mundo de cabeça para baixo. A repressão fracassou. Foi então que, o tirano de Atenas, oficializou as homenagens a Dionísio, sendo nesta altura que se instaura o Carnaval Pagão. Pisístrato construiu um templo na Acrópole: o teatro Dionísio, que está lá até hoje. Organizou em seguida concursos de peças cómicas ou dramáticas para celebrá-lo no palco, iniciando assim em Atenas a política do amparo às artes cénicas pelo Estado.

Roma
Outra hipótese difundida entre pesquisadores é a de que o Carnaval seja uma manifestação popular anterior à Era Cristã, que se iniciou em Itália, tendo o nome de Saturnálias – festa em homenagem a Saturno, a Baco (o Dionísio Romano) e a Momo. Saturno, deus da agricultura dos antigos romanos, identificado como Cronos pelos gregos, pregava a igualdade entre os homens e foi quem ensinou a arte da agricultura aos italianos.
As comemorações, que incluíam bacanais, eram realizadas em Roma entre os meses de Novembro e Dezembro. Na ocasião, ainda segundo os relatos e pesquisas, havia uma aparente quebra de hierarquia social, quando todos se misturavam na praça pública. A separação da sociedade em classes fazia com que houvesse a necessidade de válvulas de escape, através de sexo e bebida.
Os festejos eram de tal importância que tribunais e escolas fechavam as portas durante o evento, escravos eram alforriados e as pessoas saíam às ruas para dançar. Corridas de cavalo, desfiles de carros alegóricos, brigas de papelinhos, corridas de corcundas, lançamentos de ovos e outros divertimentos generalizavam a euforia. Na abertura dessas festas ao deus Saturno, carros com aparência de navios surgiam na “avenida”, com homens e mulheres nus. Estes eram chamados os carrum navalis, para muitos a origem da expressão «carnevale»

“Igreja”
Originariamente os “cristãos” começavam as comemorações do Carnaval a 25 de Dezembro, compreendendo os festejos do Natal, do Ano Novo e de Reis, onde predominavam os jogos e os disfarces.
O Carnaval “Cristão” passa a existir quando a Igreja Católica oficializa a festa, em 590 d.C. Antes, a instituição condenava a festa pelo seu carácter “pecaminoso”. A civilização judaicocristã fundamenta-se na abstinência, na culpa, no pecado, no castigo, na penitência e na redenção, renegando e condenando o Carnaval. No entanto, as autoridades eclesiásticas da época viram-se num beco sem saída dada a força e espontaneidade das celebrações. Foi então que houve a imposição de cerimónias oficiais «sérias» para conter a «libertinagem». Mas esse tipo de festa batia de frente com a principal característica do Carnaval: o riso, a brincadeira…
É só em 1545, no Concílio de Trento, que o Carnaval é reconhecido como uma manifestação popular de rua. Em 1582, o Papa Gregório XIII transforma o Calendário Juliano em Gregoriano e estabelece as datas do Carnaval.
A Igreja Católica, que considerava tais festejos mundanos, determinou que a folia deveria ser realizada dias antes do início da Quaresma – período de jejum e abstinência que antecede a Páscoa, momento em que cristãos comemoram a ressurreição de Cristo, a vitória da vida sobre a morte. O Carnaval, que nunca foi bem visto pela Igreja Católica, ganharia, ao menos na teoria, algum significado. “Por ser de origem pagã e obscena, a Igreja decidiu adoptar essas festas, transformando-as em libertárias na tentativa de domesticá-las”.

Depois, agora e aqui
O Carnaval fixou-se nas cidades de Nice, Roma e Veneza e passou a irradiar para o mundo inteiro o modelo de Carnaval que ainda hoje identifica esta festa com mascarados, fantasiados e desfiles de carros alegóricos. A festa chegou a Portugal nos séculos XV e XVI, recebendo o nome de Entrudo – isto é, introdução à Quaresma – através de uma brincadeira agressiva e pesada. O evento tinha uma característica essencialmente gastronómica e era marcado por um divertimento com alguma violência. Foi exactamente esse Entrudo violento que foi inicialmente importado para o Brasil, em 1723, com a chegada de portugueses das Ilhas da Madeira, Açores e Cabo Verde. A principal diversão dos foliões era atirar água uns aos outros. O primeiro registro de baile é de 1840.
Em 1855 surgiram os primeiros grandes clubes carnavalescos, precursores das actuais escolas de samba. No início século XX, já havia diversos cordões e blocos, que desfilavam pela cidade durante o Carnaval. A primeira escola de samba foi fundada em 1928 no bairro do Estácio (Rio de Janeiro) chamava-se «Deixa Falar». A partir de então, outras foram surgindo até chegarmos à grande festa que vemos hoje, que fazem do Carnaval uma das maiores manifestações populares no Brasil.

Conclusão
Apesar de várias versões, todas são unânimes no que respeita à origem do carnaval vinda do paganismo, de adoração a vários deuses. Carregado de simbolismos o carnaval tem sido símbolo de alegria, no entanto, esta festa tem sido sinónimo de uma euforia desenfreada que leva ao consumo de drogas, álcool e sexo, associada ao suicídio e diversos crimes contra a vida e a moral, em que tudo é permitido em nome de uma suposta alegria que traz consequências graves para toda a sociedade que a cada dia se encontra mais desestruturada.

O que fica depois da euforia?

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